Já pensou se não houvesse fiscalização aos postos de gasolina? Se seus donos pudessem vender mercadoria estragada, falsificada, batizada? Sem que fossem responsabilizados por isso? Se seu único direito fosse o de, na próxima vez, procurar um posto de gasolina diferente?
E se os açougues também não tivessem que dar satisfação à vigilância sanitária ou a mais ninguém? Podia vender a carne que fosse, do jeito que fosse? Gato, rato, cavalo, cachorro. E podia cortar diferente e dizer que era galinha, codorna, guiné, bode, vaca? Podia vender carne podre, não teria problema. Achou ruim? Passou mal? É só comprar num outro açougue da próxima vez.
Fico pensando nos ônibus urbanos, cujas empresas ganham concessões para serem autorizadas a controlar determinadas linhas. Aqui no Recife, um dos mais tradicionais é o Rio Doce/CDU, que sai do finalzinho de Olinda e vai até a Cidade Universitária, cruzando quase toda a cidade pelo circuito Campo Grande/Encruzilhada/Espinheiro/Caxangá. E se, ao chegar no meio do caminho o motorista olhasse para trás e dissesse: “tem pouca gente hoje, não vou até o final não. Vocês vão ter que descer agora.
Teu direito? Só o de pegar um outro ônibus, de uma outra companhia. Talvez te leve pra outro canto, mas aí o problema é mesmo seu.
As escolas poderiam ensinar absolutamente o que quisessem. Currículo? Diretrizes do Ministério da Educação? Balela! Isso é autoritarismo. Eliminar matemática ou substituí-la por ‘como dançar o reboleixón’ não teria problema. Papai e mamãe não gostou? Que prefiram um outro estabelecimento de ensino.
Esse mundo diferente bem que podia ser interessante. Sádico, injusto, perverso. Mas interessante.
Penso que nele, só nele, a gente poderia imaginar que o único direito que tem diante da televisão é mudar de canal.
*Integrante do CCLF, conselheiro do Movimento Nacional de Direitos Humanos, co-editor do Ombuds PE